Histórias de Luta: Eliana Maria de Oliveira

Por Yanka Xavier

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Eliana Maria de Oliveira é servidora na Proguaru (Progresso e Desenvolvimento de Guarulhos) empresa mista (sendo que grande parte pertence a Prefeitura) que presta serviços gerais na cidade de Guarulhos desde 1979, e que agora se vê em meio a luta para manter seu emprego junto dos 4.700 trabalhadores que estão com seus empregos ameaçados desde a publicação do Projeto de Lei 2745/2020 que foi apresentado à Câmara Municipal de Guarulhos (a toque de caixa) em dezembro do ano passado. Desde então, a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras tem sido organizada de forma constante e coletiva.

Hoje trazemos a história de luta da Eliana para conhecermos um pouco mais sobre esses servidores e mostrar como sua vida esta relacionada com o acesso ou a ausência deste no tocante a condições básicas de sobrevivência, e que o direito ao trabalho compõe esse grupo de necessidades fundamentais.

Eliana nasceu e foi criada em São Paulo e veio para Guarulhos com apenas 9 anos de idade. Nos conta que se casou cedo devido a uma série de situações que passava em sua casa, como a pobreza. Após cinco anos casada se separa e volta a São Paulo, e hoje tem dois filhos adultos com formação superior e netos. Volta a Guarulhos anos depois, pois sente que a cidade sempre lhe acolheu, inclusive cursou o ginásio na cidade, embora tenha estudado os anos iniciais em escolas diferentes devido a mudanças por conta de situações instáveis ao longo da vida.

A Proguaru foi seu segundo emprego como servidora pública, já que o primeiro foi com o Censo em 2010 feito pelo IBGE com contrato de trabalho por ano. E através da pesquisa PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) passou por experiências socioculturais que a levou a perceber com uma ótica mais crítica, a realidade das pessoas, “uma experiência sociológica muito rica, comecei a ver as pessoas em outras bolhas (…) tanto da classe mais abastada quanto mais desfavorecida”.

Ao chegar na Proguaru, sentiu falta da valorização do IBGE e dos assuntos diretos que poderia tratar com a diretoria do setor, por ser uma agência que preza o aspecto humano, conforme a própria citou. Após se adaptar a rotina e cobrar muito por justiça na logística das instalações internas da autarquia, por exemplo “pegam pessoas que moram no centro para trabalhar em regionais distantes, e pessoa distantes para trabalhar no centro”, Eliana se depara com a notícia de que seu meio de sustento seria extinto. Segundo ela, “isso veio de prefeito no qual eu não votei, porque já vinha numa gestão péssima; um prefeito que não tem a idade que a empresa tem”, diferente dos inúmeros trabalhadores da Proguaru que estão lá há mais de 20 anos.

Eliana sempre se interessou pelos estudos, por isso teve que enfrentar a educação mesmo longe de casa, uma vez que cursou a EJA em Aracaju, experiência que não romantiza devido as diversas provações que teve que passar para conquistar seu diploma. Por outro lado, teve que atrasar, por assim dizer, sua formação por dar prioridade aos estudos dos filhos. No momento, irá prestar vestibular na UNIVESP, mas sem a estabilidade que previa em seus planos.

“além de imoral, a fala do prefeito (em relação a extinção da autarquia) foi inconstitucional, uma afronta também as pessoas mais velhas que estavam inclusive nas manifestações. Comecei a me engajar diretamente na luta porque para mim só a manifestação não era o suficiente. Sou uma pessoa que odeia injustiças”.

A questão da Proguaru alcançou outros níveis e contou com o apoio de figuras políticas como Glauber Rocha, Guilherme Boulos, Sâmia Bonfim, Alencar, Mauro Iasi e outros, além dos vereadores do PT e Psol que foram a minoria que votaram contra essa barbaridade na Câmara municipal.

“das realidades que existem na vida, da mais humilde a mais suntuosa, conheço todas. Talvez não aquela de milionário, mas a da classe mais abastada também conheço, porque já vive todas essas realidades (…) sei o quanto isso afeta o ânimo e vontade de viver”.

Nesse sentido, Eliana também comenta sobre a questão do acesso à moradia, quando diz que muitos trabalhadores e trabalhadoras contam com dívidas sobre parcelamento e empréstimos para ter sua residência ou outro bem material necessário.

“Eu procuro ter empatia. Essa coisa de se colocar no lugar do outro. É isso o que ainda me motiva à luta, apesar de ver pessoas sendo contra a própria luta. É preciso que alguém tome a iniciativa de mostrar a cara sem medo”

Eliana também comenta sobre a privatização nos diversos setores, inclusive na educação e recentemente na área da saúde, onde os hospitais da cidade se encontram em estado de calamidade. “Na verdade a privatização é uma abertura para a corrupção de forma afrontosa e escancarada”.

A foto que ilustra essa coluna foi da última carreata que a Comissão dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Proguaru realizou na cidade e contou com o apoio de inúmeros sindicatos fora de Guarulhos. A live da carreata assim como outros materiais informativos estão disponíveis na página no facebook e instagram @emdefesadaproguaru.

Os servidores seguem em luta e contam com o total apoio da maior parte da população, a parte que reconhece a importância dessa luta não só para a cidade, mas para todos e todas que dependem da geração de renda, do emprego e do cuidado que a Proguaru sempre teve com o povo guarulhense.