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Educação popular, compromisso com a formação política e o acesso ao ensino superior
Por Rebeca Assis e Yanka Xavier
Quando surgiu a ideia deste escrito, me peguei pensando em como poderia falar de educação de um modo mais intimista, sem apontar no texto meios academicistas para chegar a um resultado didático, que expresse o pensamento desse assunto tão íntimo e, ao mesmo tempo, tão coletivo que é a educação popular e a importância dos cursinhos da cidade de Guarulhos como complemento político e cidadão dos estudantes.
De fato, deixar o academicismo de lado quando a comunicação é popular chega a ser um desafio que pode durar meses, uma vez que nossa formação nas universidades tem caráter baseado em um tom expressivamente cientificista das coisas. De modo algum, é claro, este texto busca diminuir a relevância da formação acadêmica em qualquer instância profissional, pois reconhecemos a importância das universidades neste país e a importância da ciência. Queremos somente apresentar aqui uma provocação para se pensar: cursinhos populares além da formação para o ingresso ao ensino superior; cursinhos populares pela transformação das estruturas sociais através da educação pós-processo acadêmico.
Nos últimos tempos, fazer parte da educação pública no Brasil em qualquer papel virou sinônimo de resistência (mesmo que ainda necessite de muita organização e unidade), isso se não pararmos para pensar em toda a história da educação nacional, desde a época da colônia e posteriormente na Ditadura Militar e, ainda, na atualidade, com o projeto de desmonte patrocinado pelo Governo Federal e pela burguesia deste país. Desde o dia em que os educadores assumiram o compromisso com as bases populares e descobriram ali um verdadeiro potencial de transformação social, a educação pública e popular torna-se a inimiga número 1 da elite brasileira. Afinal, pensar em um trabalhador ou estudante da classe proletária ocupando os espaços construídos pela burguesia para a burguesia, dos quais a classe média sonha ingenuamente em fazer parte, deve arrepiar qualquer pessoa que compartilhe do pensamento reacionário e conservador, em que é romântico glamourizar a exploração e a pobreza e chamar isso de meritocracia.
Nesse cenário de sufoco, os cursinhos populares, com a participação em peso de professores até mesmo da rede pública e estadual de ensino, aparecem como uma consequência da despolitização e a falta de investimento nesses setores públicos que atingem o Brasil hoje. Essa dualidade é mais complexa do que parece, mas como citei inicialmente aqui, vamos tentar deixar de lado a palestra… Um caráter permanente desses cursinhos que tem o compromisso com a transformação é sua forte influência política, sendo este um dos pilares fundamentais quando o assunto é ensino, aprendizagem e, principalmente, a prática.
Ora, afinal de contas, desde quando política é um tabu? Quem foi que inventou isso aí? A política não é uma figura masculina de terno e gravata trabalhando num gabinete. A política é viva, assim como a educação, e está em tudo, em todas as consequências das ações individuais ou coletivas. Somos seres pensantes, carregados de experiências e acontecimentos, seres que opinam, que sentem, e existimos porque agimos. Sendo assim, nenhum pensamento que se passa em nossa mente está sujeito à neutralidade. Logo, nenhuma ação do corpo será indiferente. De acordo com nós educadores populares, quais impactos um cursinho comunitário focado na transformação social rumo a uma sociedade mais fraterna e igualitária pode causar na comunidade e na vida do estudante? Os cursinhos populares cumprem o papel de ser uma alternativa para a juventude extrapolando o ordinário, oferecendo uma formação complementar, fortalecendo a construção de um sujeito comprometido com as transformações sociais necessárias à sua classe social, já que os educadores populares são capazes de enxergar sua prática educativa como algo essencial, lutando e insistindo em revoluções.
O objetivo comum da educação popular é o fortalecimento das classes populares, como sujeitos de produção e comunicação de saberes próprios, visando a transformação social. Resumidamente, uma educação popular, que é política, gera um processo de transmissão de informações e conhecimentos que disponibiliza ao cidadão um repertório que lhe permite compreender os debates políticos que se colocam na sociedade, o capacitando para participar ativamente da política.
Refletir sobre política é um exercício que propicia o pensar na coletividade, exercitar a empatia e, sobretudo, nos leva a pensar em nosso papel como cidadãos e no impacto de nossas ações na sociedade. Todas essas características dos cursinhos comunitários abarcam uma educação transformadora que liberta, evolui e emancipa a sociedade, tornando jovens e adultos agentes de transformação social, da sua própria realidade e da realidade da sua comunidade, que luta pelos direitos e espaço das camadas populares.
Rebeca Assis. Estudante do A-Sol em 2015 e 2016. Atualmente é graduanda em pedagogia na Unicamp, compõe a coordenação pedagógica do cursinho e é roteiristas da coluna de educação da revista.
Yanka Xavier. Pedagoga, graduanda em Geografia e Coordenadora do Cursinho Comunitário A-Sol.