A arte como perspectiva revolucionária

Por Pedro Galvão

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“Eu sou apaixonado por música e nos versos do hip hop encontrei a inspiração para acreditar e motivos para me indignar.”

Gostaria de começar dizendo que por todos os meios, seja social ou político, a arte salva e caminha junto.

Estamos passando por tempos conturbados e estranhos, o nevoeiro de apatia e injustiça que se estabeleceu por todo o globo é assustador. Andamos cansados demais para nos levantar, e ocupados demais para nos deitarmos novamente, estamos presenciando mudanças rápidas e instáveis.

Afinal, como posso adquirir conhecimento e consciência quando a prioridade que me preocupa é se esse mês eu irei conseguir fazer uma compra no mercado? Não existe consciência de classe, não existe estudo, não existe aprendizado quando estamos no primeiro degrau, no degrau da fome, no degrau do desemprego, no degrau da falta de moradia, no degrau da subsistência. Mas como? O nosso país é o quinto maior do mundo em questão de território, (por isso) temos SIM comida para alimentar a todos, temos sim território e moradias o suficiente para abrigar a todos, e temos sim estrutura de saúde para todos. O problema no mundo não é a escassez de recursos, é a escassez de fraternidade.

Mas não tem dialeto que devolva a paz que nos foi roubada, “o anzol da direita fez a esquerda virar peixe” (Criolo, 2014) e agora estamos todos enlatados, cada um com o seu rótulo. O tempo de didática já passou faz tempo, o nosso diálogo se tornou ineficaz diante da onda gigante de descaso e desumanidade que se formou. A teoria já não se aplica mais quando o mundo que conhecemos transformou tanto em apenas um ano, vivemos para ver uma geração que cresceu sob a asa da ditadura nos invalidar, nos tirar o direito de amar e nos matar todos os dias.

Precisamos nos unir e nos munir com informações, temos que cumprir o destino de substituir as gerações anteriores, instaurar o novo, quebrar as regras para que novas regras inclusivas tenham espaço para nascer, não devemos mais aceitar de bom grado o subemprego, a miséria e as migalhas que são postas em nossas mesas todos os dias. Chega dessa política da desgraça, chega de agradecer por respirar fumaça.

O dever de todo revolucionário é fazer a revolução, não podemos mais postergar e achar que não passaremos esse nevoeiro de morte, lembremos sempre que somos um só e que somos fortes, mostremos para o sistema que não iremos desistir da luta tão facilmente, mesmo que seja enfrentando a morte.

A valorização do professorado como base fundamental da sociedade tem que ser reconhecida, precisamos trabalhar pela base, cada vez mais e mais pela base, pois, como disse um rapaz latino-americano: o novo sempre vem. O nosso dever é guiá-los para fora dessa nuvem de desgraça.

Mas como acreditar e ter esperança? Como achar forças para ir contra toda essa arquitetura maléfica que se levantou em torno de nós? A resposta é a Arte.

E onde entra a arte em tudo isso? É esta a resposta: em tudo isso. A arte é e sempre foi protesto, a arte é a voz dos renegados, o grito de luta de milhões de almas que se recusam a se dobrar ao sistema e esse grito tem sido cada vez mais ouvido, repetido em alto e bom tom, alarmando os ouvidos insensíveis que se negam a escutar, desmascarando o ódio implícito em cada ação das classes dominantes para com as comunidades e periferias, dando a mão e levantando quem quer que tenha caído no caminho.

Seja na música, nas artes cênicas, na literatura ou nas artes visuais, a arte sempre foi usada como protesto, a arte é o que tira a criança dessa neblina e dá a ela uma direção, um motivo pra se apaixonar e ver o mundo de outra forma, e até mesmo para descobrir sua própria forma de ver o mundo. Eu sou apaixonado por música e nos versos do hip hop encontrei a inspiração para acreditar e motivos para me indignar. Desde Brown vociferando a violência e o descaso da polícia para com os pobres até a engenhosa e poética dialética de Criolo que nos faz ir mais a fundo nas problemáticas atuais. Encontrei nesses caras a inspiração pra não abaixar a cabeça e aceitar de bom grado a surra diária que levamos do sistema vigente. Encontrei um porto seguro do qual a base é formada por mentes geniais que escrevem e descrevem a vida difícil da qual muito já passei. Hoje luto pela igualdade, me baseando nos conceitos e problemáticas que me foram apresentados por essas pessoas nas quais me inspiro. Todo dia é uma nova chance de alcançar alguém, todo dia recebemos a dádiva de inspirar alguém a se juntar pela causa, de lutar por dias melhores, sem descaso e abandono, afinal, sempre foi e sempre será assim: nosso coração, suor e lágrimas em prol da luta pela liberdade, igualdade e justiça.

Afinal, o que é a arte senão a expressão única e pessoal de cada vivência? A arte é o que nos difere de meras máquinas dentro desse sistema, nos dá um nome, uma razão e um destino. Tomemos como exemplo as inúmeras escolas de arte e centros de cultura que foram criados nos últimos anos, cada mão a mais que carrega um pincel é uma mão a menos carregando uma arma, cada voz a mais que se ergue para cantar e protestar é um silêncio a menos que se forma e assim seguimos pintando uma realidade melhor, tocando um futuro mais ameno e cantando para sarar nossas inseguranças. A arte salva e caminha junto.