Professores; é preciso humanizar para valorizar sua luta e força de trabalho

Por Yanka Xavier e Rebeca Assis

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“Comparar o educador com a figura do herói, é deixá-lo ir para a guerra sozinho. É individualizar os desafios.”

No dia 15 de outubro, data em que se comemora o Dia dos Professores no Brasil, os recados mais comuns que circulam entre amigos na web coloca os professores num posto heroico, considerando que este, inserido num sistema educacional precário e numa conjuntura desafiadora, torna-se a força sub-humana que passa por cima desses males e que sempre resolve tudo no final.

A primeira reflexão que nos direciona à crítica apresentada aqui é: se olharmos duas vezes para as horas trabalhadas (dentro e fora da escola), as lutas diárias numa educação vunerável, a luta por direitos, o ambiente educacional, estaríamos valorizando estes trabalhadores ou romantizando a guerra travada entre poderosos mal intencionados e educadores, em meio a uma realidade maçante?

Acreditamos que refletir essa questão não é deixar de lado o carinho que temos em atuar pela educação, mas se faz necessário tirar a veda dos olhos, humanizar os educadores para criar possibilidades reais de mudança dos problemas que estão enraizados na estrutura do país.

Ser professor(a) está longe da ideia de padecer num paraíso. Não usamos capas, não temos superpoderes ou prevemos o futuro, e nem sempre temos o amor incondicional pelo ato de educar, afinal, onde sobra espaço para sentir apenas amor em meio a tanta tragédia? E, mesmo que a precariedade já revelasse há muito tempo o seu caos, antes mesmo desse ano desafiador, foi na pandemia que todos nós sofremos o impacto massivo de cumprir esse papel tão importante na sociedade, impacto esse que vem se aprofundando a cada ano, e nenhuma salva de palmas é capaz de arrancar os malefícios de um sistema débil e sem compromisso com nossa categoria.

Quando humanizamos o professor(a), nos reconhecemos nele(a). Identificamos sua luta, sua dor, sua coragem. Nos coletivizamos. Comparar o educador com a figura do herói, é deixá-lo ir para a guerra sozinho. É individualizar os desafios. É tirar de nós mesmos a responsabilidade coletiva de abraçar a ideia de uma sociedade fraterna e equitativa. É desvalorizar sua força de trabalho e seus desafios. O poder de reconhecer a si no outro é o que nos move desde o início das civilizações. É o que nos transforma e nos dá força, é o motor primordial para qualquer mudança radical.

Sendo assim, o que podemos fazer para transformar essa consciência alienada do herói e identificar na luta do professor a luta de nós mesmos?

Refletir sobre essa necessidade já é o primeiro passo. Mas não basta desconstruir a ideia somente, devemos materializar o pensamento coletivo em práxis, principalmente em setores que dizem respeito ao exercício de nossa autonomia cidadã. Estudar sua realidade, sua legislação, exercer seu voto consciente, apoiar a luta de forma verdadeira e não somente caridosa, entender que o professor pode ser seu melhor amigo, seu exemplo mais forte e confiável, mas que, ainda assim, precisa vender sua força de trabalho intelectual e material, por isso merece, assim como todos os trabalhadores, um salário digno, uma formação coerente e o direito de viver em dignidade como todo ser humano.

Autores

Rebeca Assis. Estudante do A-Sol em 2015 e 2016. Atualmente é graduanda em pedagogia na Unicamp, compõe a coordenação pedagógica do cursinho e é roteiristas da coluna de educação da revista.

Yanka Xavier. Pedagoga, graduanda em Geografia e Coordenadora do Cursinho Comunitário A-Sol.