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Privacidade e o uso de tecnologias para educação
Por Walter Bolitto
A partir deste mês, começarei a produzir textos para a categoria Tecnologia. Apesar do enfoque em educação, decidi não usar o termo Educação e Tecnologia por entender que os debates e ferramentas que serão abordados neste espaço nem sempre estarão em um contexto educacional, podendo ser úteis também para outros aspectos de nossa vida, como organização pessoal, motivação e foco para diferentes atividades.
Pretendo realizar uma publicação dupla na qual, além de apresentar tecnologias que podem vir a facilitar nossa vida de alguma forma, também pretende discutir aspectos sociais dessas tecnologias, já que em diversos casos essa tecnologia tem aspectos que deveriam ser mais debatidos, como roubo de dados, valorização de comportamentos pouco saudáveis e dependência emocional.
Se você apenas deseja ler a publicação de recomendações, você pode acessar a *outra matéria pelo link (Aplicativos para listas e organização de informação), que foca em aplicativos de anotações, mas recomendo que também leia a presente matéria sobre privacidade.
Vivemos atualmente na era do capitalismo de vigilância, se há 40 anos não conseguíamos pensar em um mundo sem petróleo (não que a realidade tenha sido alterada tanto assim na atualidade), hoje temos dificuldade em pensar em modelos de negócios digitais que não façam uso de dados extraídos, muitas vezes, sem o consentimento e conhecimento de usuários. Acredito que você já viu ou ouviu falar do documentário O Dilema das Redes, que se tornou recentemente popular na Netflix. O documentário é protagonizado por ex-executivos do Vale do Silício que discutem o Frankenstein criado na última década. Até este momento, já devem ter sido publicados mil textos em jornais analisando os problemas do documentário, e recomendo a leitura de um em específico (https://www.brasildefato.com.br/2020/09/28/documentario-da-netflix-sobre-uso-de-dados-ignora-solucao-que-assange-defende-ha-anos), portanto pretendo usar este espaço para abordar o documentário de uma perspectiva que não está sendo tão evidenciada.
Apesar de uma das principais soluções oferecidas pelo documentário ser “apaguem as redes sociais!”, as relações que temos com o mundo digital fazem com que certos aplicativos representem novos órgãos de nosso corpo, e sua ausência significaria uma espécie de amputação (mesmo que comprometa nossas dados e individualidade), afinal vemos que é quase impossível montar uma campanha política sem a presença nas redes sociais, perdemos oportunidades de emprego se não estamos presentes em espaços como LinkedIn, não conseguimos acessar certos conteúdos educacionais sem o YouTube e o Google Meet, entre outras ferramentas que se mostram importantes na atualidade.
Dessa forma, a única solução para o problema seria a regulamentação da mineração de dados por parte de governos, especialmente por sermos privados de certos direitos de cidadãos no ciberespaço se quisermos proteger nossos dados de alguma forma. E, de nossa parte, deveríamos ter um uso responsável das redes e aplicativos, avaliando se realmente precisamos estar lá, se devemos compartilhar o tipo de informação que compartilhamos e se devemos dedicar o tempo que dedicamos.
Por ter atuado no ativismo de direitos digitais durante um tempo, afirmo que mais importante do que a voz de ex-executivos querendo criar modelos de negócios melhores (para eles), devemos nos atentar às vozes de quem está na luta pelo direito à privacidade, e farei recomendações nesse espaço final.
Recomendo a série documental Xploit: Internet Sob Ataque, que pode ser vista na íntegra no YouTube por este link (https://www.youtube.com/playlist?list=PLXS02vxHRP014eRjSEWwLXDgOvhnZqtlp). A série brasileira ganhou prêmios como o Rio WebFest 2017 e apresenta o contexto brasileiro do assunto da perspectiva de ativistas. Recomendo também a Cryptorave (https://www.facebook.com/cryptorave/), maior evento gratuito de direitos digitais brasileiro com palestras e atividades para todos os públicos; por fim, recomendo o livro Tudo sobre tod@s: redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais, do Professor da UFABC Sérgio Amadeu da Silveira. Mais informações sobre o livro podem ser facilmente encontradas na internet.