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"Eu acredito que toda vez que os trabalhadores se organizam na história, muita coisa muda e muito rápido"
Por Walter Bolitto
Entrevista com Raul Campos Nascimento, integrante da Comissão de Trabalhadores da Proguaru.
Walter: Comparado aos últimos quatro anos, desde dezembro de 2020 observamos que a prefeitura acelerou a ‘boiada’ nos ataques ao povo guarulhense: com a criação de novas taxas, ataques à educação por meio de privatizações, jogo de azar regularizado na forma de loteria municipal, o projeto de acabar com quase 5 mil empregos da Proguaru que geram interesses aos empresários do setor da construção, entre outros. Como você analisa este aprofundamento nas políticas excludentes em Guarulhos?
Raul_:_ No segundo mandato do governo Guti, ele trocou de partido, era do PSB e foi para o PSD, e se a olharmos com atenção os planos de governo, vai ver que o último plano de governo do primeiro mandato era, teoricamente, mais progressista. Era uma coligação com a REDE e pontos com forte progressismo em um partido de centro esquerda, por assim dizer como o PSB. Com a ascensão do Bolsonarismo e do antipetismo, como ele provavelmente ganhou as eleições, foi acelerando e guinando a direita, se conectando com o espectro bolsonarista que tem o neoliberalismo uma política dos ricos de forma acentuada. Então, a política dele se conecta com os planos de Paulo Guedes, ministro da economia, o que é uma contradição, porque estamos no período em que mais precisamos de políticas públicas, em uma das maiores crises sanitárias do século. Precisamos de um município forte que acolha os munícipes e que gere emprego. Que cuida da saúde dos mais velhos. Temos ai medidas antipopulares que não ajuda ninguém. Não ajuda a população, os trabalhadores nem fortalece a economia da cidade.
Walter: Diferente de determinadas categorias de trabalhadores do setor público que observamos um grande histórico de luta dos trabalhadores, os trabalhadores Proguaru não possuem este histórico de organização coletiva. Considerando que a defesa destes empregos só ocorrerá com a participação dos próprios trabalhadores, como é a experiência de criar coletivamente essa conscientização de classe ao mesmo tempo que ocorre a luta pela defesa destes empregos?
Raul_:_ Sobre não ter um histórico de luta na questão dos trabalhadores da Proguaru, e como está sendo essa experiência: está sendo maravilhosa. Uma organização incrível. Você sente que está fazendo parte da história da humanidade, fazendo parte das lutas. Como se as lutas que já ocorreram no passado continuassem com as lutas que estão acontecendo agora. Realmente, os trabalhadores da Proguaru não tem um histórico de luta, no entanto, como está escrito no finalzinho do Manifesto do Partido Comunista, um livro importante do século XIX, um panfleto para os trabalhadores, “não temos nada a perder, mas temos um mundo a ganhar”. Os trabalhadores da Proguaru, são trabalhadores que não tem muito a perder. A média salarial não é alta, e todos os espectros geralmente são serviços, o meu por exemplo, um dos primeiros serviços estáveis. A gente enxerga essa empresa como nosso sustento. Também é um empresa muito grande, com uma ligação familiar muito forte, e não é atoa que chamamos de “família Proguaru”. Esses elementos trazem força popular, força que acredito que o prefeito não deveria ter desafiado: uma força de 5 mil trabalhadores.
Walter: Desde o início do processo de extinção da Proguaru, diferentes grupos tem muita certeza sobre o desenrolar da história da Proguaru, onde alguns garantem que ela se mantém e outros afirmam que ocorrerá o seu fechamento. Apesar disso, poucos cogitavam um levante e uma organização por parte dos trabalhadores, alterando o rumo dos eventos previstos pelo grupos interessados em seu fechamento. Você acredita que a luta pela defesa da Proguaru está impactando os rumos da cidade e da empresa?
**Raul_:** Eu acredito que toda vez que os trabalhadores se organizam na história, sempre foi assim, muita coisa muda e muito rápido. Guarulhos é uma cidade com um grau de participação política muito baixo, então quando uma massa de trabalhadores passa a se politizar, começa alterar a estrutura de toda cidade. Eu chamo carinhosamente de “virar a chavinha’, a _chavinha do patrimonialismo, do clientelismo, do mau caratismo, da ignorância de não entender o que significa cada partido, o que faz vereador X, e o prefeito. Quanto as falas de “vai fechar ou não vai fechar”, é o fatalismo. É uma forma cômoda de não participar, de imobilizar os trabalhadores. Então temos falado desde o início que um dos elementos principais da luta é a fé; mas não a fé cega, e sim a fá na mobilização. Quero dizer, “fechar ou não fechar” não vai depender de um destino já pronto. Mas dependerá do grau de conscientização e organização dos trabalhadores. Imaginando esse “braço de ferro”, acredito que começamos perdendo, e a gente vem invertendo. Após o parecer da OAB dizendo que nossa iniciativa para chamar um Referendo Popular é legítima e só precisa de 1% da assinaturas dos eleitores de Guarulhos, demos continuidade e encaminhamos as assinaturas ao TRE, que logo dará um parecer positivo e as condições necessárias para a realização do referendo. Nas entrevistas tenho dito que a gente não está só denunciando as injustiças e as coisas erradas. O que aconteceu na Proguaru foi uma traição. Adjetivos negativos daria para fazer uma lista infinita. Agora, temos um anúncio de uma vitória popular baseada na constituição federal no Art. 36. Estamos muito confiantes e acredito que o que aconteceu em Guarulhos irá inspirar outras cidades e outras mobilizações, já que Guarulhos deve ser a primeira cidade a realizar um referente popular nacional. Os trabalhadores que são geralmente “invisíveis” derrotaram um prefeito mau caráter. A elite Guarulhense.