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A sétima arte, Spike Lee e o antirracismo
Por Luka Oliveira e Thiago Alves
O cinema, desde a sua fundação, serve como um espelho entre a imagem e a realidade - seja ela por puro entretenimento ou por crítica social. A problematização através da atuação e de diálogos é a linguagem do cinema. O impacto entre a imagem e o espectador é a principal técnica que os cineastas usam para causar o “choque”.
O “choque” acontece quando o espectador, a partir do que ele acabou de assistir, começa a refletir e pensar sobre si mesmo e o mundo. Pensando neste “choque”, o que o cinema tem a dizer sobre o racismo?
Spike Lee, cineasta, escritor, produtor, professor e talvez uma das maiores influências do movimento negro da atualidade, ajuda-nos a entender um pouco melhor essa problematização através da Sétima Arte. Seus filmes são essenciais para compreender as relações sociais e, principalmente, o conflito das tensões raciais, e como pequenas coisas do dia a dia podem influenciar essas tensões. Em Faça a coisa certa (1989), ele faz um grande retrato de uma sociedade dividida pela questão racial. A grande crítica do filme não é apenas como os negros são tratados pelos brancos, mas como as condições sociais e políticas dos Estados Unidos produzem as tensões raciais, ou seja, a estrutura social dos Estados Unidos já é feita para produzir o racismo e a desigualdade. Recentemente, Spike Lee presenteou o cinema com o filme que já se tornou um clássico do cinema. Em Infiltrado na Klan (2018), Spike Lee mostra todo o seu potencial para colocar o cinema como um espelho da realidade. Neste filme, vemos alguns dos principais temas da atualidade: negacionismo histórico, fascismo, neonazismo e racismo, tudo com a sutileza do gênero “dramédia”. O filme é uma brilhante crítica de como a sociedade ainda flerta com ideologias excludentes. Os filmes do Spike Lee são essenciais para aqueles que querem ver o mundo sem anestesia.
Em 1993, Spike Lee faz uma homenagem a Malcolm X, dirigindo o filme que vai ser baseado na biografia desta figura icônica para todo o movimento negro. O filme trabalha bastante com a trajetória de um indivíduo que vive em uma realidade racista e de que forma isso afeta as suas relações pessoais, conquistas e fracassos.
Malcolm X deixou um legado de luta e de uma postura radical. Ele foi umas das grandes mentes por trás da luta contra o racismo. Martin Luther King também levantou essa bandeira. O filme de Malcom X mostra a redenção de um homem e toda a sua transformação. Ele sofreu muito preconceito, racismo, porém nunca desistiu de lutar. E que luta!
Malcom X começou sua carreira como gângster. O filme mostra como foi sua vida e tudo que ele viveu até virar membro da Nação Islã. Se você quer aprender um pouco sobre a vida dele, o filme é uma boa pedida.
A Escravidão existiu por mais de 400 anos e deixou feridas abertas. O racismo desenvolvido pela nossa sociedade deixa muitas marcas, pois é comum ouvir sobre racismo e preconceito nos jornais e até na televisão. Por isso, o conceito “racismo estrutural” é um dos temas mais importantes da atualidade. O racismo estrutural é a noção de que o racismo está em todas as estruturas da sociedade e nas instituições sociais. Consciente disso, percebe-se que o racismo não é somente uma questão moral, mas também uma questão jurídica e econômica.
Apesar das 3h20 de duração, a hora passa rápido. Para um tema que é tão atual, assistir ao filme nos ajuda a refletir sobre os motivos que levam o racismo a estar presente no mundo inteiro!
Ficha técnica dos filmes citados:
Faça a coisa certa
Título original: Do the right thing
1989/2h00min/Drama
Direção: Spike Lee
Elenco: Spike Lee, Danny Aiello e John Turturro
Nacionalidade: EUA
Malcolm X
Título original: Malcom X
1993/3h21min/Biografia, Drama, Histórico
Direção: Spike Lee
Elenco: Denzel Washington, Angela Basset e Albert Hall
Nacionalidade: EUA
Infiltrado na Klan
Título original: BlacKKKlansman
2018/2h16min/Biografia, Policial
Direção: Spike Lee
Elenco: John David Washington, Adam Driver e Topher Grace
Nacionalidade: EUA
Thiago Alves, estuda programação e faz parte do A-Sol desde março de 2020.
Luka Oliveira, é estudante de Filosofia, pesquisador de Filosofia e Cinema pelo GECEF. Professor voluntário no Cursinho Comunitário A-Sol