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A educação entre a cruz, a espada e o algoritmo
Por Walter Bolitto
Em 2016, o Brasil sofreu um golpe de Estado: o mandato de uma presidenta eleita democraticamente foi interrompido, e os avanços políticos que o Brasil teve nos 16 anos foram desfigurados por diferentes grupos, representantes do que tem de mais antiquado no Brasil.
A educação passou a ser um dos espaços mais disputados entre os diferentes grupos golpistas. Os primeiros retrocessos foram rapidamente observados na publicação da Base Nacional Comum Curricular, publicado em 2017, no qual o processo democrático do desenvolvimento do documento que ocorria até 2016 passou a se perder, tanto devido à pressão de grupos religiosos conservadores e de quanto de grupos privatizantes que alteraram partes estratégicas do documento.
A entrada de Bolsonaro no governo fez com que a educação ficasse entre a cruz, a espada e o algoritmo, representados por grupos religiosos, militares e empresários defensores do ensino remoto e privado. Apesar destes grupos disputarem a educação entre si, o projeto educacional é muito semelhante no sentido de tentar fazer a escola pública produzir “operários-máquinas”, enquanto procuram transformar a educação pública em lucro.
A preparação escolar destes trabalhadores com pensamento crítico, mas altamente produtivos, dá-se por meio do controle dos corpos de diferentes formas, onde a escola pública passa a ser palco: do ensino confessional, da obediência a ‘superiores’ que não são treinados para espaços educacionais, da aplicação de castigos físicos, especialmente voltados às minorias, da exclusão digital que leva à evasão escolar, especialmente nos bairros mais pobres, e por um processo de aprendizagem mecanizado e com apenas o conteúdo que o trabalhador uberizado da próxima geração vai precisar para exercer sua função.
Cem anos antes do golpe, o filósofo marxista Antonio Gramsci publicou o artigo “Homens ou Máquinas?”, e o texto situa a educação italiana no início do século XX com um Estado que usa sua estrutura para ampliar as desigualdades educacionais. Gramsci também nos oferece uma pedagogia voltada ao trabalho, mas dedicada à formação de um “operário-homem” ao invés de um “operário-máquina”, este primeiro conheceu uma escola democrática que ensina a filosofia, cultura e a verdadeira ciência por trás da técnica, e é essa escola que devemos pensar em construir em nossa sociedade, por meio da democratização da educação e da cultura.
A respeito, sugiro a leitura:
https://www.marxists.org/portugues/gramsci/1916/12/24.htm